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Auguste Comte


Auguste Comte



Pensador francês que deu origem ao positivismo e lançou as bases da sociologia.

Auguste Comte é o criador de uma linha de pensamento que rejeitava a metafísica de Immanuel Kant e Hegel, a favor de uma abordagem que excluía do estudo qualquer coisa que não fosse diretamente observável.

Esta abordagem, que ficou conhecida como positivismo, levou Comte a desenvolver o que chamou de “A Lei dos Três Estados”, que defendia que a jornada intelectual histórica do homem, que termina no positivismo (o terceiro estado), começa com o “Estado Teológico”, caracterizado pela crença em deuses, passando pelo intermediário “Estado Metafísico”. Comte procurava entender o comportamento social por meio de seu método positivista, tomando emprestada de Charles Darwin uma metáfora evolutiva. A sua contribuição altamente original pavimentou o caminho para a criação da sociologia, por Émile Durkheim, como disciplina académica formal e ainda para sua elaboração, feita por Max Weber, como uma metodologia não empírica, que dava conta da subjetividade na pesquisa sociológica.



Secretário de Saint-Simon


Depois de ser expulso da École Poly technique, em Paris, por ter participado num protesto estudantil, e após estudar medicina por um curto período em Montpellier, Comte trabalhou como secretário do socialista Henri de Saint-Simon de 1817 a 1824. Com Saint-Simon, Comte teve a oportunidade de desenvolver seu próprio pensamento e de publicar artigos não assinados no periódico L’Organisateur, de propriedade do patrão. Em 1823, Saint-Simon – que vinha agindo de forma errática havia algum tempo – tentou o suicídio dando seis tiros na cabeça, ficando cego nos últimos dois anos da sua vida. Em 1824, Comte cortou relações com Saint-Simon.

Vários dos artigos de Comte haviam sido publicados com o nome do patrão,
mas ele chegou ao limite quando Saint-Simon tentou publicar a primeira parte
do seu Curso de filosofia positiva com seu próprio nome. (A
partir dai, Comte rejeitaria Saint-Simon publicamente.)
A ligação entre os dois era singularmente infeliz, uma vez que o próprio
Comte sofria de depressão. Em 1826, ele foi tratado num asilo dirigido pelo
psiquiatra Jean-Étienne Dominique Esquirol, que o diagnosticou
com um distúrbio maníaco; ele prescreveu tratamentos com água fria e
sangria. Em 1827, Comte abandonou os cuidados de Esquirol e tentou o suicídio
diversas vezes, uma das quais ao saltar da Pont des Arts, em Paris.

Lei dos Três Estados

A Lei dos Três Estados de Comte, descrita em seu Curso de filosofia
positivista, apresenta uma ideia evolutiva do desenvolvimento intelectual do
homem: “A lei é esta: cada uma das nossas principais conceções, cada
vertente do nosso conhecimento, passa sucessivamente por três diferentes
condições teóricas: a teológica ou fictícia; a metafísica ou abstrata; e a
científica ou positiva”. O estado teológico é desmembrado em três partes,
caracterizadas por fetichismo, politeísmo e, finalmente, monoteísmo. No
estado de pensamento metafísico, ou abstrato, o homem tenta explicar os
fenómenos por meio de “forças” e “essências”. Este pensamento é mais
sofisticado, mas não origina resultados precisos, mensuráveis. É somente no
estado científico, ou positivo, que nossa compreensão do mundo é obtida por
meio da observação. Comte comparou essa evolução do pensamento europeu
à do desenvolvimento humano individual: infância (estado teológico),
juventude (estado metafísico), idade adulta (estado científico).
A segunda lei de Comte é conhecida como a Lei Enciclopédica ou
Epistemológica. Uma vez mais, ela toma uma abordagem evolutiva, agora
para descrever a ordem em que se desenvolveram as ciências, cada uma
delas lançando uma base para a próxima. A primeira é a matemática, da qual
se derivam (em ordem crescente de complexidade) a astronomia, a física, a
química, a biologia e, finalmente, a sociologia (o estudo científico da
sociedade). Os seis volumes do Curso de Comte são isso – um curso inteiro
em todos esses temas.

Positivismo e sociologia

Comte via o positivismo como uma maneira de combater a incerteza que
reinava após a Revolução Francesa. Tudo tinha sido posto em questão: a
instituição da Igreja, a fé individual em Deus, a monarquia, o Estado, o papel
do povo. A sociologia descobriria as leis por trás da interação social humana.
Identificaria como instituições e grupos sociais funcionavam, permitindo aos
sociólogos não apenas entender mas também prever o que acontece em
sistemas sociais.
O sucesso de Comte fora da França deve-se à tradução e ao resumo dos
seis volumes do seu Curso feitos pela teórica social inglesa Harriet Martineau
em A filosofia positiva de Auguste Comte (2 vols, 1853). Martineau
foi a primeira socióloga mulher e ativista que utilizou uma abordagem
positivista para se opor à escravidão e exigir a emancipação das mulheres.
Na Inglaterra, o trabalho de Comte foi defendido por John Stuart Mill, mas
somente até certo ponto. Comte procurou continuamente a aprovação de Mill,
que pôde segui-lo por conta da tentativa do filósofo de elevar seu positivismo
ao status de uma “religião de humanidade”.
Comte criou um calendário positivista que dividia o ano em treze meses,
que receberam os nomes de grandes homens, como Arquimedes e Dante,
assim como os dias da semana, que receberam os nomes de
outros homens distintos. (Ele propôs que anos bissextos tivessem um festival
para celebrar a vida de mulheres santas.) Adeptos da religião de humanidade
de Comte construíram uma Capela de Humanidade na França no final do
século XIX, e há três delas no Brasil – de facto, a bandeira brasileira carrega o
lema do positivismo de Comte: “Ordem e Progresso”. O lema de Comte era
vivre pour altrui, ou “viva para os outros”; é a fonte da palavra altruísmo e um
epitáfio apropriado para um pensador cuja influência se estende até o século
XXI.






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