"Contar as vidas humanas, comparar o peso de uma lágrima com o peso de uma gota de sangue, era uma tarefa impossível, mas ele já não tinha que fazer contas, e toda a moeda era boa, mesmo essa: o sangue dos outros. O preço nunca seria caro de mais."
Com a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo, O Sangue dos Outros narra-nos a história de amor entre Hélène e Jean. No entanto, a frase de Dostoievski que inaugura o romance, "Todos somos responsáveis por tudo perante todos", já nos anuncia aquele que será o eixo temático da narração: a responsabilidade do indivíduo na sociedade em que vive, as implicações do compromisso ideológico, o preço a pagar pela liberdade, o papel dos líderes políticos...
Todas estas linhas temáticas têm como pano de fundo as questões filosóficas colocadas pelo movimento existencialista, do qual Simone de Beauvoir, com Jean-Paul Sartre e Albert Camus, foi uma das impulsionadoras.
Embora este romance, assim como outros da autora, suporte uma carga didáctica e teórica por vezes excessiva, o seu estilo, pouco pretensioso e sem floreados retóricos, outorga-lhe uma grande fluidez e naturalidade. A obra oferece-nos, além disso, um interessante retrato da vida parisiense na época da ocupação hitleriana e dos movimentos de resistência que lutavam na clandestinidade contra as tropas alemãs.
Em 1983, O Sangue dos Outros foi levado ao cinema por Claude Chabrol, num filme interpretado por Jodie Foster e Sam Neill.
colecção mil folhas - público - janeiro de 2003
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