CESARE PAVESE - A LUA E AS FOGUEIRAS
LA LUNA E IL FALÒ
LA LUNA E IL FALÒ
Obra conscientemente final, publicada em 1950, poucos meses antes de Cesare Pavese atentar contra a própria vida num albergue de Turim, A Lua e as Fogueiras foi considerada pelo seu autor como uma "modesta Divina Comédia"; e, não obstante, também, o coroar da sua carreira de escritor: " A Lua e as Fogueiras - escrevia Pavese numa carta - é o livro que trazia cá dentro há mais tempo e que mais prazer me deu escrever. Tanto, que creio que por uns tempos, talvez para sempre, não farei nenhum outro".
Obra prima de um dos escritores do século XX mais justamente amados e mais injustamente descurados, o romance narra um regresso, numa perspectiva que funde a revisitação das estruturas míticas com a riqueza metafórica do símbolo psíquico: Enguia, protagonista e narrador na primeira pessoa, regressa à sua região Langhe, logo depois da guerra, após uma longa permanência na América; e é no seu país natal que empreende uma espécie de peregrinação em busca das suas raízes, tendo por companheiro e guia - o Virgílio da "modesta Divina Comédia" - o amigo de infância Nuto, carpinteiro e tocador de clarim, mas sobretudo uma alma íntegra e pura. No Piemonte do pós-guerra, Enguia vai de horror em horror, de desilusão em tragédia, constatando, mau grado seu, que as razões da história sobrepuseram à cultura local, a civilidade rural que a substancia, as raízes antropológicas que já só se poderão guardar com saudade. Entre as constantes mas controladas tentações de transfiguração lírica da realidade, se apresenta assim, em plena evidência, um dos mais elevados testemunhos da inquietação intelectual e da dolorosa ética cultural que a literatura do pós-guerra produziu: um testemunho que inaugura inapelavelmente o voo cego da segunda metade do século XX.
público - outubro de 2002
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