Esta história cronológica dos intelectuais do século XX, centrada em França, não é tanto - embora efectivamente o seja também - uma história de pessoas, ideias e obras como é realmente o relato dos confrontos de ideias entre estes intelectuais, assim como o reflexo das suas amizades e dos seus ódios.
É essencialmente um livro de acção e de acções, em que se descreve os confrontos verbais ou escritos não de velhos sábios muito tranquilos, por vezes exaltados pelos manuais escolares, mas de jovens fogosos que chegam a insultar-se mutuamente e a agredir-se fisicamente.
Através dos anos Barrès, dos anos de Gide e dos anos de Sartre, este livro faz as pazes com a realidade e a simbólica dos acontecimentos, põe a nu a carne destes homens - tenham sido eles grandes actores ou personagens secundários - que, por meio das suas ideias, pretenderam exercer alguma influência sobre o século. Libertando-se dos tons sépia em que já estão envolvidos, uns muito mais outros muito menos, eles reaparecem neste livro singular através dos seus encontros e dos seus confrontos, dos seus animados almoços ou jantares, das suas crispações. E é assim que eles se nos apresentam ora irritados, ora apaixonados, ora malévolos. Criam revistas e jornais que, por vezes, acabam por sabotar. Lúcidos ou partidariamente obcecados, quer exerçam quer não alguma influência sobre os acontecimentos, quer tenham razão quer não, envolvem-se e empenham-se numa ou em sucessivas causas, correndo sempre o risco de virem a desdizer-se ou de serem reprovados.
Para lá de todo este vastíssimo e riquíssimo quadro humano, desfila uma parte considerável da história do século XX, desde o famigerado caso Dreyfus - com o qual o termo intelectual começa a impor-se com toda a nitidez - até à morte de Sartre e de Raymond Aron, deixando em muitos a impressão de se ter chegado à extinção dos intelectuais, coisa em que Michel Winock não acredita.
terramar, 1ª edição novembro de 2000.
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