ÁLVARO GUERRA - RAZÕES DE CORAÇÃO
público - maio de 2002
Razões de Coração está centrada na chamada Guerra Peninsular, quando, na primeira década do século XIX, a França invadiu Espanha e Portugal. O seu subtítulo define o momento e o cenário: "Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808".
Embora esta obra tenha sido publicada em 1991, a ideia de escrever o romance nasce em 1970, quando Guerra visita um amigo seu que lhe mostra uma pequena jóia da sua biblioteca parisiense. Trata-se do diário manuscrito de um religioso, Frei Pedro Taveira, que, sendo monge do Convento de Mafra, abandonou o claustro quando se aproximavam as tropas invasoras e se instalou em Ribamar, a duas léguas do convento. Ali escreveu, nas margens de um calendário litúrgico, o que acontecia nesse recanto do mundo. Partindo desta pedra basilar, Guerra efectuou uma detalhada investigação sobre o conflito e os costumes da época, incluindo trajes e alimentação.
O rico elenco de personagens inclui alguns que, tal como frei Pedro Taveira, têm a sua raiz numa pessoa real que é depois modelada pela imaginação do autor. Outros são directamente fruto da sua criatividade. Entre eles destacam-se duas famílias. A de António Meneses de Almeida, fidalgo sereno e céptico casado com Beatriz Albuquerque de Sampaio, dama nacionalista de apaixonado patriotismo. Os mais velho, Carlos, milita no partido francês; o segundo, José, é comandante dos guerrilheiros que se insurgem contra os invasores; o mais novo, Pedro, é o capitão da Cavalaria Real. A segunda família é muito diferente. Trata-se de dois irmãos rústicos, Manoel e Mariana da Silveira Maldonado; o primeiro é um pusilâmine que pretende dominar sua irmã - tal como a França com a Península Ibérica -, e a segunda uma iludida a quem a realidade cobrará um elevado preço.
Em torno destes gira uma trintena de figuras que compõem o complexo mosaico das relações sociais e humanas numa região no meio de um conflito histórico.
"As suas razões de coração tiveram contra a mesquinhez dos que se deixam ir na crista das vagas do destino e não aturam a desmesura dos sonhos, se eles não acertam pelo passo do rebanho. Não era o deles este tempo, nem espaço."
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